Vinhos dos Açores

Uma longa História

 

Aliando uma tradição que remonta ao século XV com conhecimentos e tecnologias bem actuais, os Vinhos dos Açores readquirem, assim, o seu lugar nas garrafeiras de qualidade.

Os Vinhos dos Açores são herdeiros duma antiga tradição vitivinícola que remonta aos tempos dos primeiros povoadores (século XV). 

A posição privilegiada do Arquipélago para escala e abastecimento das frotas dos Descobrimentos e das posteriores linhas marítimas, foi decisiva para colocar nas várias partidas do mundo os vinhos produzidos nas ilhas.

As crónicas referem a presença de vinho dos Açores nas embarcações que se abasteciam no Porto das Pipas (Ilha Terceira) e demandavam portos nas Índias e no Além-Mar.

Vinho açoriano vendia-se bem, no século XVIII, na América do Norte, nas Antilhas, em Hamburgo e em S. Petersburgo, sendo apreciado pelos Czares da Rússia.

No século XIX é exportado vinho açoriano para o Brasil, onde era aconselhado pelos médicos como produto medicinal.

Os povoadores aproveitaram os terrenos de “biscoito” – terrenos resultantes dos derramamentos de lava mais recentes – para as plantações da vinha, e que foram experimentando várias castas, até estabilizarem nas que melhor se adaptaram às características do solo e do clima das ilhas.

A casta Verdelho, que se julga proveniente do Mediterrâneo e que terá sido introduzida no século XV, é uma das que melhor se terão adaptado ao clima e aos terrenos açorianos, resistindo até ao presente.

Na segunda metade do século XIX, as vinhas dos Açores foram dizimadas por pragas (oidium tukeri e filoxera), caindo as produções de forma catastrófica. Centenas de famílias ficaram na miséria, vendo-se obrigadas a emigrar para os EUA.

Ao tentarem encontrar castas resistentes às pragas, os açorianos recorreram à importação, para enxertos, de castas e híbridos da América, mas importaram também novas doenças que mais agravaram a situação das castas existentes. 

Algumas das castas americanas, com destaque para a “Isabella”, acabaram por produzir directamente, dando origem a um “vinho de cheiro” de baixa qualidade.

A tradição dos Vinhos dos Açores de qualidade só é retomada nos anos oitenta do século XIX, com o re-incremento da casta Verdelho e a experimentação de outras castas em campos de ensaio montados pelos serviços oficiais. 

Já nos anos noventa, os campos de ensaio foram alargados, sendo dada importância à divulgação dos resultados entretanto obtidos, ao mesmo tempo que foram criadas as Zonas Vitivinícolas dos Biscoitos (ilha Terceira) , Graciosa e Pico.

Em toda a década de noventa, foram reestruturados cerca de 150 hectares de vinha em 330 explorações nas ilhas Pico, Terceira e Graciosa.

Na Graciosa é produzido VQPRD – Vinho de Qualidade Produzido em Região Determinada, sendo produzido VLQPRD – Vinho Licoroso de Qualidade Produzido em Região Determinada nas outras duas zonas.

Parâmetros como cor, limpidez, aroma e sabor são definidos pela Comissão Vitivinícola Regional dos Açores (CVR-Açores), criada a 26 de Maio de 1994 e à qual cabe aprovar o vinho antes do engarrafamento, garantindo-se, assim, a qualidade do produto.

Já foram certificados pela CVR-Açores, os vinhos: Lajido (VLQPRD), do Pico; Brum (VLQPRD), dos Biscoitos, ilha Terceira; e Pedras Brancas (VQPRD), da Graciosa.

Aliando uma tradição que remonta ao século XV com conhecimentos e tecnologias bem actuais, os Vinhos dos Açores readquirem, assim, o seu lugar nas garrafeiras de qualidade.

  

ZONAS VITIVINÍCOLAS DOS AÇORES

Graciosa (VQPRD)

No município de Santa Cruz, a freguesia do mesmo nome e as e Guadalupe, Praia e Luz, em áreas de altitude igual ou inferior a 150 metros. As vinhas devem estar ou ser instaladas em solos com as seguintes características: solos pardo-andicos, normais e pouco espessos e solos rególicos derivados de rochas basálticas ou de materiais piroclásticos assentes sobre rocha basáltica a pouca profundidade.

Castas Recomendadas: Verdelho, Arinto, Terrantês, Boal e Fernão Pires.

Castas Autorizadas: Malvasia, Sercial, Generosa, Seara Nova, Rio Grande e Bical.

Pico (VLQPRD)

No concelho da Madalena, a freguesia do mesmo nome e as de Candelária, Criação Velha e Bandeiras, em áreas de altitude igual ou inferior a 100 metros. No concelho de São Roque, a freguesia de Santa Luzia e parte da freguesia da Prainha, lugar da Baía de Canas, em áreas de altitude igual ou inferior a 100 metros. No concelho de Lajes, a freguesia da Piedade, nos lugares de Engrade e Manhenha, em áreas de altitude igual ou superior a 100 metros.

As vinhas devem estar ou ser instaladas em solos com as seguintes características: solos litólicos não húmidos e litossolos, sobre substrato consolidado de basaltos ou rochas afins, correspondente a lavas recentes, associadas a afloramentos rochosos, por vezes com material pedregoso disseminado e manto lávico consolidado à superfície.

Castas Recomendadas: Verdelho, Arinto e Terrantês

Castas Autorizadas: Malvasia, Sercial, Generosa, Fernão Pires e Galego-Dourado.

Biscoitos (VLQPRD)

A freguesia dos Biscoitos localiza-se no concelho da Praia da Vitória, ilha Terceira. A Zona Vitivinícola abrange as áreas de altitude igual ou inferior a 100 metros. As vinhas devem estar ou ser instaladas em solos com as seguintes características: solos litólicos não húmidos e litossolos, sobre substrato consolidado de basaltos ou rochas afins, andesitos e traquitos, em geral correspondente a lavas recentes, frequentemente associados a afloramentos rochosos e por vezes com material pedregoso disseminado.

Castas Recomendadas: Verdelho, Arinto e Terrantês

Castas Autorizadas: Boal, Malvasia, Sercial, Fernão Pires, Generosa e Galego-Dourado.

 

Adaptado de MENDES, Armando, Vinhos dos Açores, Secretaria Regional da Agricultura e Pescas, 2001